terça-feira, 30 de novembro de 2010

A força do amor

Empresto, com certa ousadia, o título da canção de Cleberson Horsth e Ronaldo Bastos, interpretada pela Banda Roupa Nova. Em toda a composição os autores sugerem a naturalidade como o amor se move e dizem: “abriu minha visão o jeito que o amor, tocando o pé no chão, alcança as estrelas. Tem poder de mover as montanhas, quando quer acontecer, derruba as barreiras”.
De fato. No último domingo, dia 21 de novembro, percebi o fantástico poder e o mágico movimento de montanha, num pequeno gesto. A cena por si pode se nominar como as razões do amor. Muito embora, de acordo com os místicos e os apaixonados, o amor não tem razão alguma. Silésius, místico medieval, dizia que o amor pode ser comparado à rosa, já que ela não tem porquês: floresce porque floresce.
Então, era domingo, final de primavera, aragem quente na paisagem do interior paulista, estava num hospital, acompanhando meu sogro em sua luta pela vida. Dura batalha travada por ele ressalte-se.
Ele, ali com suas dores e temores, parecia não se importar se era domingo, nem com a temperatura, nem mesmo se havia uma partida de futebol, uma de suas diversões prediletas, ocasião em que, como corintiano da cor da paixão, o arrebatasse para a televisão, como forma até de minimizar as agruras do tratamento.
O mar não estava para peixes, nem o dia para futebol. A magia da TV não fora o bastante para aliviar dores insistentes.
Quase no final da tarde, o jogo acabando, com a quase vitória do time de Parque São Jorge, ou do Pacaembu ou quiçá do Itaquerão, o amor, esse sentimento dimensional, deu as caras e fez confirmar mais um dos versos da canção que se emprestou para essa reflexão: “não tem hora de chegar” e entrou de mansinho, alegrando o ambiente. Minha mulher, palmeirense confessa, muito simpática ao Santos Futebol Clube, trouxe, sem hora certa de chegar, uma demonstração de amor que se dá graciosamente, como sentimento que se semeia ao vento, para muito mais daquilo que, porventura, esteja fixado nos livros, nos poemas, ou em regulamentos. Ama-se e pronto; ama-se, porque se ama.
Ela buscou sua inspiração nas portas dos apartamentos que ostentavam que mais uma Natália, ou Pedro, ou Eduardo, ou mesmo Giovana tivessem vindo ao mundo. À porta de seus quartos, a vida se estendia resumida num par de sapatinhos, num instrumento musical, numa minúscula camisa ou outra forma de expressão de que o amor ali frutificara.
Não deu outra: para homenagear o pai, fazer dele o seu motivo e movimento de amar, passou parte de sua tarde, em casa, a preparar os adornos a um par de chinelos do tipo havaianas, que o seu genitor ganhara, atá-los bem entre fitas alvinegras, para enfeitar a entrada do apartamento.
O amor se deu, movimentou-se, ergueu os pés e tocou as estrelas, em forma de gol, em forma de time, de paixão, ali se metaforizou e ganhou a simpatia de enfermeiros e transeuntes taciturnos que, muitas vezes, fazem dos corredores de hospitais, seus espaços para breves caminhadas.
A vitória pretendida pelo timão foi barrada naquele domingo pelo Vitória, mas o amor filial se fez forte e lá ficou dependurado, expressão máxima de inspiração e de admiração. Sou obrigado a vergar-me a Silésius: o amor, tal qual a rosa, floresce porque acontece.

São José do Rio Preto, 24 de novembro de 2011.



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Que lixeira, que nada!


Lixeiras de rua. Algo interessante, que faz parte da paisagem urbana. Ali, quietinhas, perfiladas, instaladas defronte das casas e dos prédios públicos e, é claro, cada casa, cada loja, cada organização empresarial tem a sua instalada.
As lixeiras permanecem silenciosas, inertes, ora vítimas de tanta destruição ora, famintas, aguardando um segredo, uma conta, um resto de escrita, um caderno, ou a comida que sobejou por exemplo, vindas em embalagens diversas: sacos plásticos pretos, sacolinhas de supermercados, caixas de papelão e outras mais.
Gatos e cachorros adoram as mais baixinhas. Esses animaizinhos se servem da passividade delas para fazerem suas festinhas, frente ao desejo de bocados bem ensacados, entre restos e sobras.
Mas as lixeiras reservam outras surpresas. Que o diga a dupla Janjam, os Agentes de Serviços da escola Walfredo Fogaça. Eles quase enfartaram na última quinta-feira. Sim, o coração dos dois funcionários quase explodiu de tanto susto, perante algo por eles julgado infame, ultrajante.
A dupla rodeava o prédio escolar para uma inspeção de calçadas, quando, de repente, viu parar um carro nas proximidades da lixeira da escola e dele desceu uma pessoa em atitude suspeita.
A dupla de funcionários ficou à espreita, vigiando o “gato” e as estripulias que poderia fazer a partir daí. E eles ficaram estarrecidos com o que viram.
Do interior do veículo, o condutor retirou nada mais do que seis destes pacotes de cem litros de lixo e os depositou “tranquilamente” sobre a espaçosa lixeira escolar. A dupla não interveio e nem procurou satisfações com os “infratores” de lixeira alheia.
Indignados, deixando o gato zarpar após sua missão consciente “quase cumprida”, os funcionários passaram a observar os volumes ali deixados. Eram tantos, mas não tão pesados como costuma parecer sacos de cem litros.
Bingo!
Dentro dos sacos, acondicionados com certo esmero, estavam várias embalagens vazias de uma pizzaria que fica na avenida, próxima da escola.
A funcionária, quase soltando os "bofes", entrou na sala do diretor, contou a façanha presenciada e disse:
- Diretor, se não pegamos o gato, capturamos suas pegadas. Ao mostrar uma das embalagens, disse. - Olha aqui o número do telefone da pizzaria. Vamos ligar, não pedindo uma pizza, mas informando a gerência sobre a malandragem do funcionário da limpeza daquela (des)organização empresarial!

São José do Rio Preto, 06/11/2010