quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Prazeres & deveres






Eduardo Girão oferece uma frase expressiva. Elejo-a como brinde ao momento vivido:  “Há duas fontes perenes de alegria pura: o bem realizado e o dever cumprido."  Foi assim que me senti ontem e é assim que inicio, hoje, minhas reflexões sobre os resultados da III Feira de Arte, Ciências e Letras da EE Prof. Walfredo Fogaça.
Depois de muitos anos de magistério, apesar de toda a experiência, de toda a luta empreendida para arquitetar a arte de ensinar-aprender, não obstante toda a tensão gerada pelos compromissos profissionais, confesso: recomeçar um ano letivo não é nada fácil. Concluí-lo, ainda que com todos os custos, envolvimento, etapas, encontros e desencontros, é uma constatação de se ter levado o dever a cabo.
A feira de Ciências da escola (assim mais popularmente nominada) aconteceu no dia 05 de dezembro de 2012, fazendo parte do plano de ação do ano todo. E aconteceu de forma ímpar. Escola viva, escola de gente, presença maciça de pais de alunos, dos estudantes, num momento de congraçamento e demonstração das realizações do ano. Muito trabalho, reforce-se, estamparam as paredes e demais espaços escolares.
A área de Educação Física abriu magistralmente os trabalhos, ao som de Brasileirinho, momentos em que os estudantes puderam demonstrar as habilidades aprendidas na Ginástica Rítmica Desportiva, com todo o aparelhamento necessário, além da demonstração do Badminton, do tênis de mesa e do pebolim. Espetáculo de crianças: com leveza, com graça e com compromisso de gente miúda, determinação de gente grande.
Nas salas de aula, cada professora do 1º ao 5º ano, procurou evidenciar a obra de seus alunos: livros de histórias narradas, cadernos e pastas com as produções, o doce canto da aventura de aprender a ler e a escrever (coisas do 1º ano), os projetos realizados como, por exemplo, os meios de comunicação, os animais selvagens e animais marinhos, o projeto criança como eu, o projeto fábula, o conto, o reconto, a confabulação, as atividades matemáticas por meio do lúdico, e tantas outras produções, num conjunto de fazeres de uma escola, colocados aos olhos dos convidados num dia de visitação.
Cabe realçar a efetividade do interesse demonstrado quanto aos stands dos quintos anos com seus experimentos científicos. A presença dos estagiários do projeto PIBID, desenvolvido pela Unesp – Educação em Ciências - em parceria com a escola, foi de grande valia ao processo e, possibilitou mostrar o envolvimento da escola na pesquisa a qual se envolve com aqueles órgãos. Com efeito, a ciência aprisiona o olhar e fascina as pessoas.
Não menos importante que tudo foi ver a alegria e poder entrar na réplica da casa de Jorge Amado, em Rio Preto, como a classe de 5º ano resolveu nomear o espaço, como forma de celebrar o centenário daquele autor baiano, por meio da divulgação de suas obras, seus personagens, seu enredo. 
Coube ao outro 5º ano celebrar o rei do Baião, com o entusiasmo de toda a obra contada e cantada pelo imortal Luiz Gonzaga. Faltou apenas servir o tradicional prato “baião-de-dois”. A professora até planejou isto, no entanto resolveu se aquietar para não “dar desando no povo”.  
Foi possível assistir e captar a alegria vinda dos olhos dos pais em suas apreciações espontâneas, a colocação dos professores, e, sobretudo, a fala natural das crianças. Isto faz pensar no que diz Mahatma Gandhi: a alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitória propriamente dita.  Creio ter sido este o sentimento de todos da escola, ontem, todos os atores envolvidos no processo.
Não tivemos visitas oficiais, não, nenhuma. Nem a imprensa soube para contar a nossa história. Se é nossa a história, creio, cabe a nós guardá-la da melhor forma possível; talvez nas fotos que os pais (em suas muitas câmeras e celulares) fizeram e curti-las, compartilhá-las, colocá-las em porta-retratos, ou, quem sabe, algum dia, deletá-las.
Para finalizar, empresto a fala de John Lennon que diz: Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre me disse que a felicidade era a chave para a vida. Quando eu fui para a escola, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Eu escrevi “feliz”. Eles me disseram que eu não entendi a pergunta, e eu lhes disse que eles não entendiam a vida.
São José do Rio Preto, 06 de dezembro de 2012.  

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Abajur sem luz


As luzes da ribalta se apagaram com a última apresentação da peça O Abajur Lilás, em meados de março de 2008, num canto da Rua Frederico Abranches, Bairro de Santa Cecília, em São Paulo.
A peça, ambientada num mocó, focaliza o drama de personagens socialmente marginalizadas: Dilma, Célia e Leninha, profissionais do sexo, e evidencia no tempero o entojo à existência humana.
As prostitutas, para fazer cumprir suas tarefas, exibem cicatrizes cortadas pela vida em navalhas cegas, são exploradas por Jiro, o cafetão-chefe, no melhor estilo de motivação à competitividade, à produtividade e à qualidade total, voltados ao lucro dos homens de negócios.
O ar, no “inferninho”, cheirava a cachaça, a perfume ordinário emanados dos corpos cansados de guerra, pulverizado com o odorizador-metáfora do medo, do autoritarismo, do terror, das doenças, do vazio de viver, das angustias humanas, como se todo aquele aroma pudesse apagá-los.
O samba – esse estilo musical afro-brasileiro, ritmo que nos faz vibrar entre as lambadas e o  que se samba na lida – trouxe como trilha sonora a vida que se enreda: “Do jeito que a vida quer”, valsando com “As mariposas” para, no final, postar-se “De frente pro crime” e assistir quase que extasiado: “tá lá o corpo estendido no chão...”.
Célia rebelou-se contra a tirania do sistema: virou a mesa e o abajur. A opressão, o mando, a “cala-boca”, no entanto, silenciou vozes, afogou cabeças, torturou o corpo, afastou o perigo.
A personagem Célia desvela a força movedora do ser humano ao resgatar sua dignidade, mesmo quando impera a força bruta! Quedou-se o abajur lilás, vivem, no entanto, as idéias de Plínio Marcos.

Aposentadoria: o apagar das luzes



Ruben Alves destaca algo de que muito se fala: o sofrimento dos professores e, olhando o avesso das coisas, prefere falar da alegria de ensinar, sobretudo, aquela que torna o docente ensinante da felicidade.
No entanto, observando o cotidiano da escola, nota-se que algumas lições desaprendidas apagam, aos poucos, desejos e profecias de ensinar a felicidade.
Das conversas com os professores – daquelas distantes do lugar comum – indisciplina escolar, classes lotadas, más condições de trabalho, gestão autocrática, desinteresse, analfabetismo e outros, quase sempre, fala-se sobre o desencanto do final da jornada.
Chega-se a ela pelo reverso, com a constatação de que, do trabalho, restou apenas a promessa de fidelidade jurada ao serviço público, o ofício cumprido. Estampa-se que o empregador público acrescentou pouco numa passagem de 25, 30 ou 35 anos, cujo horizonte perdido se apaga no vazio do reconhecimento da pessoa do profissional que é o professor. Que pena que as coisas assim se desenhem. E, voz corrente, o discurso do desencanto faz coro cada vez maior.
Fico a pensar no final da carreira de muitos professores e lamento a arquitetura que se apresenta no descortínio das luzes. A hora de ensarilhar das armas acontece e entre a alegria de ter sido profissional e a melancolia do cenário, remeto-me ao que Alves sugere sobre a indagação que se faz ao docente sobre a profissão e que este deve responder: sou um pastor da alegria ... mas alerta - apenas seus alunos, mestre, poderão atestar isso.

Rio Preto, 08 de novembro de 2012.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

DIA DO PROFESSOR


Hoje é dia do professor. A data anda meio esquecida – não pelos profissionais da área, mas por grande parte dos segmentos da sociedade brasileira.

Não é esse, certamente, o motivo para não celebrar – com júbilo – o fato de professar a profissão docente, que acontece no cotidiano das escolas, mesmo quando o mar pareça estar para poucos peixes.

É fato que alguns professores remam com os braços doridos, arrastados por ondas gigantes, solapados por ventos fortes, desanimados com a pesca diária. O arrastão nem sempre tem motivado a busca do bom pescado.

Há, também, aqueles que ainda vêem nos ventos oportunidades de mudanças e conseguem compreendê-las como necessárias à descoberta doutros mares, doutras terras, e, então, reaprender para decodificar outras cartas de navegação.

Há os que ainda se encantam com o mar, não menos do que com os peixes, e, nesse entrecruzar de encantamentos, tecem redes, trazem o pescado bom para o barco e o encaminha a inesperados destinos.

Um dia, desses marcados movimento da vida, no milagre da multiplicação dos peixes, o remador-ensinante encontra um peixe ali numa clínica, num escritório, numa loja, alguns na magistratura, na indústria, no esporte, no campo, e muitos outros que retornam ao grande oceano onde se aprendeu, para, então ensinar e atravessar canais, ondas e ventos novos.

Por isso, hoje é dia de festa e de vida! Dia do Professor, apesar das águas revoltas, dos peixes não fisgados e da própria necessidade de recuperar a identidade profissional. É feliz quem, ao viver da pesca, a ela dá, não tira o mar!

 

 

 

Texto originalmente publicado no Jornal Bom Dia Rio Preto – outubro de 2008

domingo, 7 de outubro de 2012

De portões fechados


Setembro: um mês esperado. Não explico o porquê da espera, mas neste dois mil e doze, minha espera por ele foi grande.  Possivelmente os dias quentes e secos de agosto forçaram tal espera ainda mais, talvez a esperança de um bocado de chuva, talvez dias amenos movessem a esperança por “entrar setembro”.
E os dias de setembro vieram. O ar continuou seco e pesado por uns dias até que a desejada chuva chegasse para dar ao mês a cara dele. E trouxe sorriso e trouxe frescor e trouxe chuva, vida, afinal.
Curiosamente, estava num período de final de férias e fiz uma única curta viagem.  De passagem pela região em que transitava, resolvi visitar o túmulo de um ente querido numa pequena cidade. O cemitério local não é do tipo marcado com tumbas imponentes e mausoléus elegantes. Não! Há algumas peças bem antigas que remetem ao tempo da história dormida da gente do lugar, alguns túmulos simples, mas revelam ali fotos de seus ilustres moradores.
A maioria das covas do lugar é identificada com placas discretas no chão, sem apresentar mausoléus ou imagens de santos suntuosas. Os túmulos mais antigos deixam letras, palavras e homenagens nas singelas lápides já quase se apagando. Tudo é muito típico da paisagem no lugar, muito verde, muitas árvores, inclusive uma seriguela em frutos, percebi de minha última estada. Como a pequena cidade, o seu cemitério parece revelar a vida daquela paragem.
Na entrada do prédio, um pouco distante do centro da pequena cidade, uma placa sinaliza que o espaço público é aberto diariamente à visitação, das 08h00 às 17h00 horas. Cheguei bem defronte do portão e vi que ele silencioso velava pelo silencio do lugar e ainda eram 16 h e 30 min. Estranhei o fato e até imaginei que fosse feriado na cidade, em plena segunda-feira. Resolvi descer as ruas das cercanias e perguntar a algum vizinho sobre o ocorrido, mas não havia nenhum vizinho à vista ou em casa.
Desci um pouco mais a rua e vi três rapazes ao redor de um carro. Pensei comigo que eles talvez soubessem algo. Ao perguntar-lhes eles disseram ter visto os dois funcionários descendo ao Almoxarifado da Prefeitura alguns minutos antes e sinalizaram que eles ainda estariam por perto.
Resolvi acompanhar o cortejo dos dois funcionários que, segundo informaram, estavam de bicicleta, mas que eles a empurravam, não a montavam, logo a razão de não estarem longe dali. Alcancei os moços e perguntei-lhes sobre a razão do fechamento do campo santo, ao que me disseram que doravante o lugar fecha mais cedo, pois os funcionários precisam bater o ponto e ir embora.
Ao conversar com eles disse que a placa marcava dezessete horas o tempo de fechar as portas. Eles disseram que era a nova lei. Perguntaram se era algum sepultamento ou afim, e respondi que apenas queria levar flores e visitar um túmulo de parente.
Um deles se prontificou a voltar. Minha mulher ficou com dó e não achou justo tirar o sossego dos rapazes ao final de um dia de labuta. Mas, negociou pedindo a chave do cadeado do portão principal emprestada que, de pronto foi atendida.
Perguntei o nome dele e pedi que me esperasse que retornaríamos antes das dezessete a fim de não causar atraso (supondo-se que a jornada de trabalho se encerra às dezessete horas). Ele anuiu, disse-nos o seu nome.
Refeitos, fomos à visita breve e com o compromisso de devolver a chave tão gentilmente emprestada. Curioso foi que, tão logo chegamos ao lugar, minha mulher abriu o cadeado e deixou-o com chave e tudo junto à corrente.
Entrei em seguida e vi a cena. Como o seguro morreu de velho, retirei chave com cadeado e tudo e entrei no lugar para minha parte na visita. Não se passaram cinco minutos, percebi que entrava no lugar um cidadão com cara de contrito.
Pensei: - este está como nós, deve ter sido vítima da antecipação do horário e veio visitar alguém.
Retirei-me do lugar e minha mulher ficou por lá ainda fazendo suas orações e adornos no vaso do túmulo visitado. Passei pelo cidadão que me se apresentou como Presidente da Câmara e perguntou:
- Quem lhes entregou a chave do portão?
- Respondi-lhe que foi um funcionário (Nesta hora é bom ser apenas funcionário para não ser responsabilizado). Como era tempo de política, fiquei esperto e reduzi todas as possibilidades de informação, vai que por um lapso a oposição e a situação se peguem numa questão de vida, justamente pelo portão do cemitério, a coisa ficaria preta para alguém.
Pediu-me a chave: eu disse que cabia a mim devolvê-la e esperei que o homem, agora com cara menos contrita retornasse da visita que ele disse que faria. Vi que ele ligou o celular e falou com alguém. Esta visita parecia mais viva do que a cena apontava.
Em alguns minutos ele retornou. Passou por nós. Minha mulher já andava um pouco apreensiva e temerosa de que o funcionário X, se descoberto, poderia ser a vítima do portão fechado.
O Presidente disse que se eleito entraria em seu oitavo mandato como vereador. Deu um até logo e saiu com seu carro estampando o nome do candidato a Prefeito e o dele. E foi-se embora vagarosamente como a vida do lugar.
Zarpamos para o Almoxarifado. Lá não estava nem X, que dirá o companheiro Y. Entreguei a chave a um grupo de funcionários que estavam sentados esperando a vida soar dezessete horas
Não sei mais nada, além disso. Fiquei a imaginar o que tivera passado pela cabeça do homem da casa das leis, o que pensava X sobre o episódio chave e a dos colegas de ofício ali sentados. Suponho que alguém imaginou ser a TV ou um jornal ali espionando a lentidão da vida que pulsa na cidadezinha, onde a política, nesta época, é quem dita o ritmo e dá um movimento diferente ao ambiente, ainda que seja preciso abrir o cemitério após o expediente.
 
São José do Rio Preto, 07 de outubro de 2012. Dia de eleições municipais.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Agita Galera 2012


Mais um dia de aula. O centésimo vigésimo quinto dia do calendário escolar de dois mil e doze. Na escola estadual Prof. Walfredo de Andrade Fogaça, em São José do Rio Preto, a manhã gelada de trinta e um de agosto, na quadra coberta da escola, não espantou nem a grande maioria dos alunos, nem parte de seus pais, para o tradicional dia do agita a galera, que marcaria a primeira hora letiva do dia.
O programa tem por objetivo promover a prática de exercícios físicos e estimular a coordenação e atividade motora dos alunos da rede estadual. Também faz parte da proposta do programa promover o estilo de vida ativa e levantar a discussão sobre a importância das atividades corporais e motoras para a promoção da saúde nas escolas da Rede Estadual.
Para o presente ano, a equipe gestora e docentes preparou-se para o evento dentro do espírito folclórico. Exercícios físicos e coordenação motora, promotores da saúde, na toada dos bois de Paritins, que, de repente, invadiu a escola com a ginga, o movimento, o calor da arte amazônica.
Antes de representar a arte da cidade dos Bumbas caprichoso e Garantido, os alunos mergulharam, por assim dizer, nas ondas da rede e pesquisaram tudo o que vem da cultura mágica e alucinante da gente paritinense.
A cor vermelha do Boi Garantido misturou-se ao azul da escola Walfredo e também o tom do Boi Caprichoso, e tomou formando um mar rubro-azulado pela quadra da unidade escolar.
A agitação da galera foi marcada por alongamento e atividades aeróbicas, finalizando com a coreografia da música Vermelho, ponto máximo do ritmo que envolveu, embalando alunos, professores e muitos pais, tanto os do período da manhã, quanto os do período da tarde.
O Projeto Badminton: com a peteca para cima foi apresentado aos pais, por meio de demonstração dos aparelhos que envolvem a modalidade esportiva, em momento de gala do dia de agitação, objetivo do projeto. Garbosos, elegantes, alunos de ambos os períodos, desfilaram e apresentaram as raquetes, as petecas, a bolsa porta-raquete a todos os presentes. O desfile mantinha os olhos das crianças fixados nos equipamentos que, certamente, farão de sua cabeça, a extensão do projeto: para cima.
Como o evento avizinhava a Semana da Pátria, foi de bom tom, com os alunos perfilados, na abertura da apresentação da turma da tarde, demonstrar aos pais o trabalho musical que a unidade escolar faz com seus alunos, cujo objetivo é cantar e interpretar músicas de qualidade. Destaque-se aos hinos pátrios. Então, foi a vez do Hino da Independência, com todas as suas estrofes, a ganhar voz no coral de mais de trezentas vozes. Para a alegria dos pais, avós, tios, irmãos, padrinhos, o momento foi mágico. 
Disse-me, em particular, uma senhora, jovem avó: que alegria, diretor, fiz uma viagem pelo tempo e retomei a minha escola, o rigor das comemorações, a ordem, a postura dos alunos, diante daqueles momentos de civismo obrigatório. Quanto medo, quanto temor! Hoje, com alegria, crianças pequenas cantam alegremente a Brava Gente brasileira. Alegria muito grande invade meu coração, senhor Diretor.  
O pequeno Yan, do 1º ano C, aluno da Prof.a Cleide, dono de uma voz infantil de seus seis anos de idade, voz esta com direito a vez, foi o centro das atenções ao entoar, sem erros as palavras difíceis do Hino, composição de Evaristo da Veiga, e esmerava-se mais quando cantava e encantava o estribilho e fazia vibrar ainda mais o acorde do desejo da brava gente brasileira em uma voz ainda desafinada por estar em formação. Sem dúvida, Yan e a maioria dos alunos de apresentaram um cântico bonito, encantador, pleno de cidadania dos novos tempos de escola.
Não poderia fechar esta escritura sem coletar e apresentar algumas das opiniões de nossos alunos, afinal, sem o entusiasmo da equipe docente, sem a ativa participação dos funcionários e colaboradores, e a efetividade da entrega dos alunos, o agita seria algo desagitado.
Gerson, do 5º ano D escreve: achei muito legal esta atividade, pois o esporte é essencial ao desenvolvimento das crianças. Meus pais não puderam vir, mas quando contei a eles tudo o que aconteceu, eles ficaram maravilhados com tudo. Pena que é o meu último ano nessa escola, mas tenho orgulho de ter participado de todos os Agita Galera que já teve desde 2008.
Mariane, também do 5º ano D afirma: Diretor, adorei, foi muito legal. Meu pai também adorou. A minha parte preferida foi a hora em que todo mundo dançou a coreografia do Vermelho. De manhã acordei bem cedo, mas valeu a pena. Todos se divertiram.
Ana Carolina, do 4º ano F escreveu: gostei muito do Agita Galera da minha escola. O diretor também participou e no final deu uma ginástica bem bacana para a gente. Achei genial as crianças vestidas de vermelho.
A opinião de Ana Carolina converge com o que afirma Luiz Eduardo da mesma turma: que legal que todos meus colegas vestiram-se de vermelho por causa do Boi Garantido.
Para Mário, do 5º ano D foi agradável o agita galera desta sexta-feira. Gostei da atuação da professora de Educação Física e a sua, no final, fazendo uma demonstração de ginástica. Diverti-me muito naquele dia, com todo mundo de vermelho dançando muito legal. 
Adriele, do 5º ano C afirmou: foi muito legal, porque a gente dançou, fez alongamentos, ginástica e todas as pessoas gostaram: principalmente o meu pai. Foi ótimo. A opinião da aluna encontra eco no que depõem Gabriela Cristina e Polyane Costa da mesma sala: foi muito bom, muito especial a coreografia, linda, da qual meus pais muito se orgulharam.
Palavras escritas pelas crianças em suas verdades, não restam dúvidas de que o objetivo do Agita 2012 foi mais do que alcançado. Parabéns, equipe Walfredo!


São José do Rio Preto, 03 de setembro de 2012.   

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

De palavras e cinzas



Era quase carnaval. Naquela manhã de quinta-feira não garoava mais na Terra da Garoa. A estação Paraíso do Metrô mais negava que confirmava seu nome de batismo. As pessoas esperavam pelo trem como a última esperança.
De repente, “fui entrado” num dos vagões. Como um troféu, consegui um lugar. A meu lado, sentada, uma senhora vociferava contra o serviço ao qual paga, apesar da idade. Bradava, à busca de se fazer ouvida, pela multidão que, agarrada ao que podia, parecia alheia às queixas de quem se dizia “louca, maluca”, pelos anos que lhe arcavam o corpo cansado, todavia uma alma em luta.
Ia para as Clínicas. Segunda razão de seu desconforto: soube de véspera, que o exame da neta, há tempo marcado, fora cancelado. A procurar saber o porquê do cancelamento, esbravejou que a “mocoronga” que viera atendê-la no balcão informou sobre os novos procedimentos para exames especiais.
De olho vivo nos passageiros do trem-sardinha, a idosa cidadã disse que “faria o diabo” naquele Hospital e, se preciso, enfrentaria Diretores, mas que o exame – “que não é de graça como pensa o povão” – seria feito e como seria!
Seria sim, porque, segundo ela, os políticos não sabem o que é fila, vila, favela, senha, fome e desesperança. A cada necessidade, um assessor, um ajudante, sempre pronto a lhes fazer as vontades, a preços custeados pelos pobres.
Não resisti à curiosidade e quis saber o nome da guerreira do trem. O trem parou nas Clínicas, Alcineide apeou. O vagão a ouviu, entretanto, ninguém se moveu, ninguém a acompanhou, ninguém empunhou sua bandeira. As dores e lamentações da pobre mulher parecem ter saído do trem quando ela desceu na estão Clínicas. Sua dor, certamente não sairá no jornal. Penso que nunca mais verei Alcineide. Temo uma coisa: que suas palavras sejam como as cinzas dessa quarta-feira.


São Paulo, fevereiro de 2008.
Texto originalmente publicado no Jornal Bom Dia.