quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Que sacola que nada: quero apreciar a alegria dos saberes

Dia de calor intenso neste último dia de fevereiro mais um. O ano que se repete a cada quatro. A professora Josemara, docente do 3º ano B da escola em que trabalhamos juntos, como todo o grupo de docentes da escola, estava envolvida (evidentemente que fora da sacolinha) com os seus alunos sobre uma discussão acalorada: sacolinhas plásticas.

Por sugestão da própria professora, visitei o sítio www.sacolinhasplasticas.com.br a  fim de obter informações e conhecimento extras sobre o tema, estudado e proposto como trabalho na unidade escolar em nosso último Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), para o que se planejou uma sequência didática, a partir de um material recebido da Secretaria de Meio Ambiente.

Pois bem: o estudo em seu ritmo e no que se pensa sobre ele vai ganhando contorno na prática pedagógica. A professora propôs que levássemos os alunos à Sala de Informática da escola para uma conversa com eles, após sua discussão inicial sobre a aprendizagem trazida de casa, fruto de conversa e entrevista familiar. Bom! As pessoas conversam com os filhos sobre os deveres escolares e os auxiliam em suas empreitadas acadêmicas, mesmo que nos anos iniciais do ensino fundamental.    Ricas contribuições das famílias, suas opiniões, seus recados, suas considerações também sobre os sacos de lixo, neste exercício de banimento de sacolinhas de supermercados do espaço em que vivemos. Por que não com eles, pergunta uma das mães de alunos entrevistadas.

Mas, no cenário escolar, diante do mundo digital, as crianças não se intimidaram: mostraram-se falantes, defensoras de ideias e de sugestões de como utilizar as sacolas. Contaram de vida, de números, de experiências ricas e como fariam para utilizar sacolas em situações diversas: como capa de chuva, como protetor de chapinha nos cabelos, como proteção a sapatos e tênis de pintores de paredes, como peças de roupas a serem confeccionadas por meio do crochê da vovó etc.

A interação dos alunos com o ambiente midiático foi mágica: discutir o processo de reciclagem do plástico, as maneiras de utilizar sacolas, a localização de rio preto no mapa do país, o exercício de calculadora na relação idas ao supermercado/quantidade de sacolas utilizadas por compra e tantas outras falas.

De repente, como professor temporário daquela turma percebia-se nitidamente  que o interesse dos garotos e garotas aumentava a cada instante.  As crianças deixaram-se embalar pelo tema da aula e deram elas mesmas o ritmo de seu conhecimento de mundo e de vida acumulados, ainda aos oito ou quase isto ou pouco mais de idade.

Gratificante o presente que recebi da turma do 3º ano B, 2012. Um privilégio poder ver que ensinar e aprender  implica processo, por meio do qual sempre se faz necessário motivar os estudantes ao caminho da construção do conhecimento: quando este ingrediente envolve o prazer, entusiasmo, enxergar o sentido das coisas a serem aprendidas.

Longe do embornal, separados dos sacos de papel que embrulhavam as nossas alegrias a cada compra das vendas das cidades onde nossos sonhos se erguiam e distante daquelas sacolas de feira listradas de outrora, nossos alunos hoje discorrem sobre Ecobag, sobre compostagem, reciclagem e outros erres, como sujeitos que também são de seu tempo, de sua alegria, de sua esperança e de nossa convicção como educadores que, juntos com eles, poderemos desbravar novos desejos, novos sonhos até que novas discussões, tais quais as sacolas plásticas de então, nos envolvam e nos arrastem a outros contextos.

Ao agradecer meus pimpolhos da turma sobre o privilégio de dividir com eles a alegria da aula de hoje, um deles, com a mesma graça com a qual se envolveu na sala de informática, na certeza que marca seu ser de oito anos me respondeu:

- Que nada, diretor, o presente foi nosso em você ter sido o professor da aula de hoje!

Entre sacolas, computadores, telões, polipropileno, eu retiro a minha viola do saco e quero me fascinar com a alegria de aprender, ensinando com as crianças da escola Walfredo Fogaça, entre risos, riscos, sinalizadores, sinais, entradas e portas fomentadores de novos e mais sólidos saberes.



São José do Rio Preto, 29 de fevereiro de 2012.