quinta-feira, 11 de abril de 2013

ENFEITES DE NATAL?


Segunda-feira, 26 de outubro de dois mil e nove. Um desses dias preguiçosos para todos, e, em especial para professores e alunos da escola pública, que têm trabalhado aos sábados para repor o período do recesso gripado. O porco ainda anda dando trabalho!
Ainda era bem cedo. As pessoas caminham para seus diferentes destinos. Os carros, ônibus e motos subiam e desciam a Avenida Mirassolândia em seu ritmo frenético, para levar seus passageiros aos diversos recantos da cidade.
No primeiro balão, perto da escola que tem o mesmo apelido, de longe vi algo que piscava e pensei: - será que já é Natal? Sem ter respostas, numa confusão de idéias olhei para os lados procurando outras alegorias, festões, cordões, renas, papais noéis, árvores e tudo mais que torna o Natal mais real, mesmo que ainda seja outubro. Afinal, as lojas, passado o Dia das Crianças, apelam imediatamente para o nosso sentido consumista e nos faz pensar nos presentes das pessoas queridas, que, durante todo o ano, convivemos juntos e, como de praxe, nos final do ano, nosso lado Papai Noel aflora, a ponto de nos fazer distribuir, entre laços e abraços, blusas, camisetas, livros e brinquedos.
   De repente, me toquei: vi que eram luzes a piscar, não aquelas de Natal. Era o painel do novo radar, instalado perto do balão - em testes - para diminuir a pressa nossa de cada dia, seja na corrida para a escola, para o trabalho, sempre com o alvo de não perder tempo, e assim, lembrar os apressados que a vida precisa de pausas, nem que seja o momento em que os Correios nos tragam uma surpresa. Não aquela carta com a resposta do pedido atendida pelo bom velhinho, mas o aviso da Prefeitura lembrar que velocidade tem limite, e, ao desrespeitar os sinais, particularmente o radar, multa nas carteiras dos motoristas.

São José do Rio Preto, 26 de outubro de 2009.

 

Crônica realizada a pedido da Prof.a Luciene para problematizar o assunto com seus alunos do quinto ano.

Jogos e jogadas


Longe está o tempo da bolinha de gude, do pique, dos peões de madeira, das peladas nas ruas (entenda-se futebol) e outras aventuras que povoaram o mundo infantil. Ficaram longe as brincadeiras da velha infância: talvez, esmagadas por construções, muros, presídios, no que foram os terrenos, as esquinas, as quadras inteiras, nosso território de vida das ruas de outrora.
Os dias de primavera nas tardes fagueiras dos bosques, a matinha peculiar de cada cidade onde as crianças, voavam de cipó a cipó, numa grande concentração de Tarzans esconderam-se, afugentaram-se em meio aos gibis, histórias de vida tecidas pelos então pequenos heróis.
Cowboys, índios Apaches ou Sioux, mocinhos ou bandidos: éramos herois, apenas isso. E valia o brincar até quando a tarde morria e nos lembrávamos, com frio na barriga, e com um gosto de transgressão, dos ensinamentos dos pais sobre os perigos do nadar às escondidas, dos mergulhos não autorizados nos córregos da cidade, mesmo assim, a gente arriscava e o fazia, a fim de tomar um gole de aventura e de felicidade.
Os carrinhos de rolimã rasgavam ruelas, ladeiras, calçadas: as disputas desenfreadas, quase sempre, terminavam até mesmo com a alegria dos joelhos ralados.    
Os terrenos baldios não tinham esse ar de abandono dos de hoje. Eram territórios de jogadores de bolinha de gude, de pião, das peladas, do esconde-esconde, do pega-pega, do taco, ou “bete”, aquele jogo das vidraças estraçadalhas... afinal, eram brincadeiras infantis.
Vida controversa! E lá fora, distante, fria, perigosa ficou a rua dos meninos. O brincar infantil da atualidade já integrou a era digital: celulares, câmeras, players de MP5, jogos de luta, de guerra e tantos outros entretenimentos. Um apelo tecnológico assustador. Uma roda viva sem cabanas, nem cavernas, ou forte apache. Novos jogos numa vida, talvez, de faça-de-conta.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

A pedra de Esmeralda


Esmeralda foi sempre uma boa menina: desprovida de bens materiais, plena, porém, de ideais elevados. Viveu sempre a esperança de dias melhores e, enquanto esperançava, conduzia as delícias dos dias de infância nunca perdida, apesar de tamanhas dificuldades.
Tecia-se a vida na escola, nas brincadeiras infantis, na ajuda em casa, na “panha” do algodão, no amendoim raleado e café catado, para sobreviver.
Chegou um final de ano. Desses que param as pessoas à celebração dum ciclo e, com ele, a passagem do tempo e das conquistas, expressa pelo famoso “amigo-secreto”.
Na escola, Esmeralda e a turma cultivavam os momentos daquele primeiro amigo-secreto. Ela, a boa menina, esmerou no presente de sua amiga, apesar dos recursos parcos e foi-se para as emoções da vida em grupo, sempre a pensar em quem seria a sua ou o seu amigo-secreto.
E era ele: Justo, um garoto de posses e bem apessoado. Justo embrulhou a esperança de Esmeralda num belo pacote e nele colocou uma pedra qualquer de rua, guarnecida com duas balas de hortelã. A pedra de Esmeralda era apenas um presente frio, inválido, seco, tal qual Justo, o pobre menino rico, a brincar com os sentimentos alheios.
Esmeralda cresceu, progrediu, venceu na vida, e, apesar das pedras e das adversidades, ela mantém o ideal de vida. Entretanto,  quando se trata de amigo-secreto, a pedra fria ainda lhe estremece o coração.   

quarta-feira, 3 de abril de 2013

É só aguardar...


O cidadão, tomado de modo geral como cliente, consumidor, paciente, e outros, está cada vez mais exigente e se atreve a reclamar seus direitos: vai à luta, recorre a órgãos de defesa, a jornais, a rádios e, de repente, num dado lugar ouve-se o grito de alguém que faz parte turba oprimida: - Vou chamar a TV tem! Isto como se ela fosse a solução para todos os males.  
Há, por outro lado, os clientes silenciosos. Esses preferem seguir as instruções do famoso “é só aguardar”, e, cabisbaixos, procuram seu lugar para se sentar engolindo sua indignação. Entretanto, no silenciar das queixas, esses podem trocar de fornecedores.
Logo, qualquer organização prestadora de serviços ou produtos deve primar pelo bom atendimento a seu bem mais precioso: o cliente, às vezes mais paciente que tudo no jogo dos negócios.
As frases feitas das organizações, muitas vezes soam, quase sempre, como ato mecânico dos atendentes, a exemplo do irritante chavão, consagrado pelas recepcionistas de clínicas – é só esperar - acompanhados de vazio, quando de consultas ou de retornos médicos.
O que se percebe, de modo geral, é a falta de envolvimento, a insensibilidade no trato com a dor, com a angústia ou mesmo com a inquietação provocada diante da necessidade de se manter vivo, ao que se recebe, via de regra, tratamento modelizado. O paciente ratifica sua condição de refém da fria recepção.
O que se reflete é que, sem paixão, sem dedicação, sem motivação real em atender às necessidades apresentadas, em antecipar soluções, o relacionamento com o cliente dilui-se em comportamentos burocráticos, gerador apenas de insatisfações. Quem atende precisa, antes de tudo, ser, querer e saber.  É preciso ser o abre-alas de relações duradouras no mundo dos negócios, notadamente nessa Era da Qualidade, tempo de criar e, sobretudo, manter clientes satisfeitos.
O comandante Rolim, da TAM, ao estender o tapete vermelho para tratar o cliente como rei, sinalizava que se a empresa não atender bem, preferencialmente na primeira vez, esse nunca voltará à organização. Ele, certamente, não aguardava, nem sugeria que se aguardasse; agia, com visão de futuro.
Enquanto isso, nas clínicas.... é só aguardar...

Texto originalmente publicado no Jornal Bom Dia, em 2009.