segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Flores de Sueli

A data, já gravada na memória, remete a um tempo de início de namoro: a primeira de tantas flores: uma orquídea, cujas pétalas acabaram indo se secar e ficar no meio de um livro. Uma semente que um dia germinaria.
Sempre tivemos plantas em casa: samambaias de metro, antúrios, lírios ou mesmo as nossas “suculentas” cultivadas com carinho.
As orquídeas, enfim, tiveram o seu tempo de colheita, após a longa semeadura, aquela flor que o livro guardou e que o tempo cuidou de ruir, fruto de um desejo, germinaria aqui em Rio Preto, por volta dos últimos cinco anos, definitivamente.
A chácara que temos foi o lugar ideal para o cultivo. Comprando ou ganhando vasos com orquídeas, após a florada, o destino era plantá-las nas árvores do lugar.
Mas, a questão de paixão, é alimentada com o olhar, com o namorar as espécies e não dava para vê-las, diariamente, na chácara. A ideia foi trazê-las para a “casa grande”.
A flor que entrou em nossas vidas há anos, fez colorir e mudar nosso olhar para elas: era preciso estudá-la para o cultivo adequado. Sueli então começou a aventura pelo conhecimento: se há um site sobre orquídeas, eis ali o mouse, o olhar, o encantamento dela frente às espécies. Depois de muita pesquisa ( e perda de espécies por excesso de terra e água,conseguiu convencer a si e ao marido, de que orquídeas necessitam de pouco para o seu desenvolvimento e, assim praticando o uso adequado de substratos por espécies, aprenderam a lidar com mais propriedade com Wandas, arundinas, phalenopsis, dendrobiuns, denfales, cinbidiuns, oncidiuns,catleyas e tantas outras.
As revistas, novas ou velhas, são espiadas, lidas, pesquisadas, compradas por Sueli, que também coleciona para a prática, os equipamentos necessários ao ofício.
Sabe de adubos, de pesticidas, de prevenção e das ideias mais fantásticas para o cultivo, poda, rega, enfim, a arte de cultivar suas flores prediletas. Não que um bom capitão (espécie de planta comum) ou uma florinha silvestre, escape de seus olhos, canteiros floridos.
Cabe ao marido a parte acadêmica para, posteriormente praticar as teorias: ele frequenta os cursos específicos, como cultivo de orquídea, jardim vertical, mini jardim etc, sob a orientação de Sueli, a incentivadora.
Difícil perder uma quarta-feira no CEASA, ou uma feira (às terças), e voltar para casa sem flores. Visitar uma feira ou exposição de orquídeas é deixar-se perder entre as belezas das espécies.
Sueli é também fotógrafa de flores: haja arquivo no computador para tanto registro de catléias em flor, de mini dendro, e toda e qualquer espécie que lhe encha a câmera e as lentes de tanta beleza.
Vindas para casa, e com a compra ou os presentes recebidos, o difícil foi arranjar tanto lugar para conviver com as plantas. Não houve saída: era preciso construir um orquidário (ainda que singelo e com olhares amadores), sem, contudo, perder de vista os conceitos básicos: umidade, ventilação e luminosidade.
Pois bem: o difícil agora é sair e deixar as filhas sozinhas. É preciso o olho vivo com elas, a conversa diária, a rega cuidadosa do final de semana, em que se vive mais intensamente com a companhia delas.
Recentemente o casal teve de viajar num final de semana destes quentes da cidade. Um vento veemente de inverno quente acidentou um painel de orquídeas da varanda: como a dor de um filho, foi duro ver algumas espécies deixadas ao solo, sozinhas, quase que secas, sem carinho.
São mais de duzentos vasos. Cada planta, uma história, um desejo, um prazer e uma (ou muito mais) foto espalhadas por diversos arquivos digitais.
As plantas mudaram a vida do casal. É prazeroso cuidar delas, pensar nelas, buscar estudar sua natureza, seu cultivo. É terapêutico, é saudável, é sentir-se generoso com a natureza e espalhar possibilidades de ampliar a floração, ou, simplesmente, observá-las, apenas, espiando aqui e acolá um brotinho novo a despontar ou um ácaro insistente a combater.

Difícil, agora, ausentar-se delas.

 

Um comentário:

  1. Suas orquídeas não são apenas orquídeas. São pedaços de vida que encontraram outros pedaços de vida e tornaram-se apenas um. O casal é Um, por isso esse encantamento compartilhado. Por isso esse envolvimento. Lindo texto. Linda experiência.

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