terça-feira, 26 de abril de 2011

Notícia de jornal

Há dias me vem à memória o samba cantando por Chico Buarque sobre o final da história de amor de Joana de Tal com um tal João. Semelhante às tragédias da vida real, Joana quis dar cabo da vida; não conseguiu. Medicada, de volta para a casa, ela se pega sem lar, sem amor. É apenas alguém que errou na dose, errou de João. Ninguém notou, nem morou na dor que era seu mal.

Joana, a mulata errante, sem João, Pessoas de Tal, moradores de barracos humildes, anônimos, vítimas de amores desfeitos, logo, sem jeito, na cena confirmam o refrão-conclusão da música: “a dor da gente não sai no jornal”.

Como tantos outros cidadãos, suas histórias, seus medos, suas perdas e seus danos, a quem interessa a dor de Joana de Tal? O que fazer com a imensidão de encontros e desencontros que assolam alguns ali, devassam tantos acolá? Assim como a história de Joana e de João, melhor não escrever, cantá-la, apenas em versos e acordes possíveis.

E por que não escrever as histórias ricas de vida? Talvez porque dê trabalho, ou pela dificuldade em lidar com elas. Podem confundir, já que são histórias não ensinadas na escola, nem nas faculdades. Os “causos” dos barracos, das vilas, dos engenhos, do mato, suas cores e dores, que deles se encarreguem poetas, seresteiros e os embalem as cantigas e as rodas de samba, em noites de desabafo.

De fato, dores de toda a gente como Joana, não têm vozes, apesar dos gritos e gemidos; não saem, pois, no jornal. Expressam-nas os versos, como os que compõem a música A massa: “a dor da gente é dor de menino acanhado, menino-bezerro pisado no curral do mundo a penar”.

De mães e encantamento

O poeta Carlos Drummond, em seu poema Para sempre, pergunta intrigante: Por que Deus permite que as mães vão se embora? Tal qual o poeta, muitos repetem a mesma pergunta que ecoa..., simplesmente ecoa...


O real assustador é que a hora chega e, com a realidade desnudada, a sensação de abandono, a falta de chão, é tal qual o momento da separação do seio-alimentador dos primeiros tempos de vida.

Mas, após a separação – fosse para receber um irmão, novo titular do leite natural, a mãe ali estava, para criar mais um filho, com amor infinito. Ou mesmo quando era tempo de escola, aos sete anos, uma nova ruptura. Como o sinal da aula, a mãe era presente para levar ao colégio, para brigar na escola contra todos os perigos possíveis a seu bem mais precioso.

Na juventude, outra separação: ganhava-se a rua, os amigos contra o sono perdido. De volta a casa, a que hora fosse, a mãe bem perto era acalanto para perdas, danos ou porres homéricos.

Ao ingressar no mundo do trabalho, outro corte: mas a roupa cuidada, a chamada matinal, as refeições, os bons conselhos e a torcida para que o melhor filho do mundo fosse o melhor profissional, era presente materno vivo.

O casamento: um novo rompimento. Tempo depois, sua presença no papel de avó proclamava que a vida se recicla e ressurge especialista na função de zelar, de proteger e de amar mais gente.

Porém, sem esgotar o potencial de amar, um dia, as mães partem. Retiram-se de cena. Deixam-nos. Travados, disfarçamo-nos, como crianças, a perguntar: – por que está fria, mãe? Por que cerrou seus olhos? Mas, parafraseando Guimarães Rosa, não morrem: ficam encantadas!

Quase maio, dia das mães 2011