terça-feira, 26 de abril de 2011

De mães e encantamento

O poeta Carlos Drummond, em seu poema Para sempre, pergunta intrigante: Por que Deus permite que as mães vão se embora? Tal qual o poeta, muitos repetem a mesma pergunta que ecoa..., simplesmente ecoa...


O real assustador é que a hora chega e, com a realidade desnudada, a sensação de abandono, a falta de chão, é tal qual o momento da separação do seio-alimentador dos primeiros tempos de vida.

Mas, após a separação – fosse para receber um irmão, novo titular do leite natural, a mãe ali estava, para criar mais um filho, com amor infinito. Ou mesmo quando era tempo de escola, aos sete anos, uma nova ruptura. Como o sinal da aula, a mãe era presente para levar ao colégio, para brigar na escola contra todos os perigos possíveis a seu bem mais precioso.

Na juventude, outra separação: ganhava-se a rua, os amigos contra o sono perdido. De volta a casa, a que hora fosse, a mãe bem perto era acalanto para perdas, danos ou porres homéricos.

Ao ingressar no mundo do trabalho, outro corte: mas a roupa cuidada, a chamada matinal, as refeições, os bons conselhos e a torcida para que o melhor filho do mundo fosse o melhor profissional, era presente materno vivo.

O casamento: um novo rompimento. Tempo depois, sua presença no papel de avó proclamava que a vida se recicla e ressurge especialista na função de zelar, de proteger e de amar mais gente.

Porém, sem esgotar o potencial de amar, um dia, as mães partem. Retiram-se de cena. Deixam-nos. Travados, disfarçamo-nos, como crianças, a perguntar: – por que está fria, mãe? Por que cerrou seus olhos? Mas, parafraseando Guimarães Rosa, não morrem: ficam encantadas!

Quase maio, dia das mães 2011

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