Aprendi
com o terapeuta Oswaldo Longo Jr que as comemorações de aniversários podem
durar até que se comemore o próximo. Pois bem. Acreditei e tomei a sério a
conversa travada no confessionário das relações de vida. Há mesmo muita coisa a
contar de um a outro fato, caro Oswaldo.
Em
25 de fevereiro de 2013 escrevi uma carta inicial ao menino Theo, meu neto
querido. O dia de seu nascimento. Um final de dia de tumultuosa alegria. O
tempo para quem se alegra ao longo das novidades, ainda que aparentemente
duradouro, passou logo. Em 2014, singelamente, na intimidade familiar, cantamos
os primeiros parabéns a você, com a participação do pequeno causador de tamanha
felicidade em família.
O
garoto, àquela época, já andava, balbuciava algumas palavras e distribuía sua
energia a seus avós, seus pais e a seus tios. Vestia-se numa bata branca que o
deixava ainda mais iluminado, e encantado com a singela decoração do painel dos
bichos – leões, macacos, tigres, girafas – um de seus interesses – marca de sua
primeira festa entre parentes mais próximos.
O
ano novo de 2014 também se teceu rápido. Talvez o crescimento do menino
impedisse a paixão de ver a razão com que o tempo imprime sua velocidade e seu
ritmo. E o menino danou a falar, a surpreender a todos com sua esperteza,
ligeireza, gostos, caras, bocas, risos frente ao mundo a descobrir.
Ouvir-lhe
a voz, ver os dentes nascerem, acompanhar seu desenvolvimento é comparável à
redescoberta da vida. A escola infantil, quanta contribuição teve na vida do pequeno
grande garoto. Ritmado, já me fez descrever a balada à beira do berço,
publicada no blog em dezembro de 2013, Theo não resiste a um bom som. Canta,
dança, salta, pula, e dedilha sua guitarra com ares de grande tocador.
Toda
esta evolução do garoto constitui-se presentes antes e depois do primeiro
aniversário, verdadeiros presentes a nós: pais, avós, tios, tias e amigos. A
cabeça registra as emoções e estas se misturam ao calendário cronológico de uma
vida tocada pela alegria de ter o menino à volta.
Por
exemplo, ouvi-lo, numa viagem da família, em setembro ido de 2014, chamar-me e
também a sua avó Su por vovozinho e vovozinha, é som de singularidade
particular. Um carinho grande de gente enorme. Sem preço.
O
mundo particular do menino neto, entre nós, se desenha ao brincar, interagindo
com as pessoas e entre seus bichos – cavalos, porcos, carneiros, patos, boi –
todos devidamente nomeados, seus dinossauros, seus carrinhos, e ainda, a
apropriação dos velhos homenzinhos da marca Playmobil,
guardados há mais de trinta anos pelo tio-padrinho Guilherme, é uma dádiva ver,
participar, e sentir a vida acontecendo.
A
aproximação do segundo Natal de Theo trouxe o encantamento das cores da árvore
com suas bolas, luzes e o Papai Noel. É de fazer crer a quem tenha perdido o
sentimento de magia perante a data que basta observar os olhos da criança em
períodos assim. A inocência e encantamento curvando-se ao admirar as luzes
diante do mistério da chegada o velho Noel. Mais lindo do que isso: ver o
menino colocar seus bichos de pelúcia para esperarem juntos pelo bom velhinho.
Coisas da mágica infância.
Ouvir
– e curtir – as conversas de Theo é uma aventura surpreendente. E como fala o
bichin, como diria meu saudoso avô Marcelino. E o aprendizado da linguagem, com
o desenvolvimento das funções superiores defendidas por Vygotsky são bem
acentuadas ao observar-lhe o comportamento tagarela frente aos símbolos. Ele
ouve as avós, em particular a vovó Su, a mãe e – certamente outras pessoas a
pronunciarem: - coitadinho disto, coitadinho daquilo e, muitas vezes escuta
também a palavra “judieira”, a qual dela se serve em situações específicas.
Recentemente
o pequeno neto veio ficar um bom tempo de sábado a domingo, quando os pais
tiveram um evento. Pronto: a casa é toda dele, a rotina se volta toda a embalar
o garoto. A avó Su que o diga. Pois bem, numa das escapadas da vigilante do
neto para um banho rápido, o menino ficou com o avô. E pediu um biscoito da
galinha pintadinha (o que não fazem para vender?) e eu disse a ele que pegasse
o pacote, o qual ele bem sabia onde estava. E, sob recomendações de cuidado com
os degraus da casa, lá foi o menino pegar o pacote.
Com
o pequeno pacote na mão – embalagem que encanta também a criança – ele voltava
ao outro espaço da sala onde estávamos, embevecido com a imagem da galinha,
descuidou-se de subir o degrau com o qual trombou. Resposta imediata um choro
de tirar a avó do banho, com todo o exagero da fala. Socorri-o depressa e, no
breve choro ele disse:
−
Coitadinho do Theo!
Não
sabia o que fazer. O meu contentamento pela expressão do neto foi tão grande
quanto o sentimento de vê-lo chorando, e apiedando-se diante da leve queda.
Tudo foi dissipado brevemente. O choro
deu lugar à alegria do menino em seguida.
Próximo
de casa tem algumas atrações de agrado de Theo: a praça, as calçadas, a
cachorrada das casas, os gatos que se espalham e se ajuntam em algumas
residências, dentre eles, os que moram nos bueiros, por ele chamado de
“bulaco”. Há também uma loja próxima a uma avenida, cujo animal da marca é o
leão.
Ao
ver a loja, os olhos do menino não são certamente às vitrines, mas às paredes
ao alto, em que, numa delas, na esquina há a figura de um grande leão, noutra,
fechando a esquina, outros três. Ele se encanta com a grandeza das imagens e ao
vê-las diz: - um leão, três leões. E junto disto tudo vem a canção: leão, leão, leão, és o rei da criação.
Como o velho coração sexagenário se comporta diante disto tudo? Fantasticamente
maravilhoso.
Nestes
passeios nossos, é comum que o rapaz prefira andar, a fim de poder correr em disparada pelas calçadas. Sempre para e explora o que vê. Formigas, plantas,
pedaços de madeira, papel, e tantas outras coisas, como ele afirma: - quanta
coisa! Ao correr, tenho de fazê-lo também, para a alegria dele. A ação conjunta
o diverte e corre dizendo: − o Theo e o
vovolisio, todo mundo correndo. Pode isto tudo?
Uma aventura iniciada há algum tempo (como se
o rapaz tivesse anos.... mas a gente não sabe valorar o tempo de amor quando se
envolve com o neto) é o que ele chama “passear de varinha”. Um dos vizinhos tem
na calçada uma cheflera (schefllera
arborífica). As folhas da árvore são presas a uma haste de 30 a 40
centímetros. Ela sugere uma vara como se fora uma bengala. O garoto curte
demais andar apoiando-se a ela, com a qual faz suas danuras ao longo do programa. E eu tenho de também utilizar a
minha, por ordem do moço: duas varinhas: a do Theo e a do vovolisio.
Outro
dia cismou que a base donde saem as folhas fosse um bico de um pato. E demorou
investigando aquilo tudo. Sempre voltamos a casa com as varinhas, objeto de
passeios divertidos.
Há
muito para contar em quase vinte e três meses. O bom tempo da infância passa
depressa e é sabido que este período não volta mais. Na mente, no coração de
quem tem a criança por perto se cimentam as alegrias, as observações, as
emoções, os abraços dados diante de cada atitude dos seres singulares de cada
criança.
Amalgamando
meu olhar a toda a obra que se constroi ao ver a vida acontecer com o pequeno
Theo rendo-lhe a homenagem pelo presente que nos dá ao ter feito o seu primeiro
ano, antes que chegue fevereiro, vinte e cinco, dois mil e quinze e esta
história carimbe o ano dois deste menino que tanta alegria me/nos dá. Vida
longa ao querido neto.
Com
um abração de seu vovolisio.