sexta-feira, 30 de março de 2012

2011 = 6,10

      Ainda que difícil admitir, o fato é que processos avaliativos acabam por trazer certo desconforto para a maioria das pessoas. O que se sabe é que, ao longo de toda a existência, o ser humano é submetido à avaliação.  E a vida, de repente, mostra sua graça nisso mesmo. Ser notado, ser avaliado, ser apreciado, ser visto como quem se estampa ao mundo.
E, além de toda a aura que envolve a avaliação, outra que a distingue é a expectativa das partes: avaliadores e avaliados. Quanta energia muitas almas deixam esvair-se à espera de um sinal, de um símbolo, de uma nota, enfim, de um indicador. Há alguns dias vi este sentimento intensificado entre a grande parte dos atores do processo ensino-aprendizagem da Escola Walfredo Fogaça, a nossa escola, como assumimos sempre e, mais agora, neste tão esperado dia 30 de março de 2012. Qual o grande motivo para brindar esta sexta-feira 30? Por acaso a sexta-feira, por si só já não seria motivo de celebração?


Não somente isso, caro leitor, é que a equipe e milhares delas em outras no estado de São Paulo, nas comunidades escolares da rede estadual o verdadeiro dia D era hoje: a revelação do índice IDESP – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, resultante da avaliação das provas do SARESP – Sistema de Avaliação da Educação do Estado de São Paulo, relativa ao ano de 2011.
Como é bom sorrir de boca e de corações cheios, por que não? Sim, sorrir pela coroação de um intenso trabalho que se vem construindo ao longo de alguns anos, quando a equipe se debruçou sobre a prova enquanto momento plural do trabalho que se efetiva na escola e não como dias recortados dos duzentos outros letivos em que se produz conhecimento vital às crianças que se servem da instituição para sua formação, seu crescimento, seu porto seguro em termos de Educação Básica, direito inalienável do cidadão.
O grupo todo tinha expectativa de que a escola ultrapassaria, a exemplo do que já fez na Prova Brasil, instrumento que mede a educação básica em nível federal, desde 2009, a nota seis. Esperávamos por isso em 2011, com o índice relativo a 2010, mas quis o tempo que nossas certezas e a de nossos alunos fossem amadurecendo aos poucos. A Prof.ª Nilza, guerreira do 5o ano, fez translúcida sua frustração em relação ao resultado do ano, no entanto, o equilíbrio - sempre necessário - ajuda na fixação de metas e de desejos, como faz lembrar a prudência vinda da jovem professora Marcela, docente do 1o  ano ao apostar na construção do sucesso em goles.
Passado um ano, o que era para ser 5,59 veio com a expressiva marca de 6,10! É motivo de sobra para rir a bandeiras desfraldadas e a brindar o sucesso do trabalho empreendido no contexto escolar por funcionários, equipe gestora, docentes e alunos, sem deixar de lado o entusiasmo e a crença dos pais em nossas apostas.
Utilizando este espaço de mídia social, não posso, como gestor da escola, responsável pelo encaminhamento das políticas públicas a que a escola deve se submeter, deixar de agradecer. Formalmente o faço, cumprimentando a equipe técnica pelas horas de trabalho dispensadas em prol de estudos, leituras, pesquisas, elaboração de provas preparatórias, da escolha de textos e testes, das correções, das reflexões conjuntas dos resultados obtidos por meio da atividade dos alunos com os professores.
A estes, docentes do primeiro ao quinto ano, um ano único, diferente, com muita vontade e quase nenhum funcionário por bom tempo, momento em que recebíamos pela primeira vez o aluno de seis anos na escola, este ilustre e afável ser humano para melhorar nossa capacidade de aprendizado. E como aprendemos tendo de nos preparar para ensiná-los!
Como foi especial ver a chegada de gente ainda mais jovem para o rejuvenescimento de nossas crenças, de nossos anseios, de nossos medos, mas de desafios lançados a testar a nossa coragem.
Obrigado, professores todos da equipe!  De nada adiantaria toda a leitura, toda a pesquisa, todo o estudo, não fosse o debruçar de seus olhos sobre a imensa responsabilidade de educar e de cuidar de nossas crianças. Ensinar a ler, a ver, a delimitar, a identificar, a contextualizar, a descobrir as entranhas do texto e o frio e esquisito número, definidor do resultado de um problema resolvido, de uma reta traçada, de uma coordenada identificada, de uma malha preenchida.  O trabalho desenvolvido em sala faz valer a citação de Janói Mamedes ao admitir que “O professor só pode ensinar quando está disposto a aprender”. E isto, caros mestres, traz junto outra reflexão, a de Jean Piaget e que serve de fechamento às práticas adotadas em nosso cotidiano: “O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança descobrir. Cria situações-problemas”.
Aos servidores da escola, Agentes de Serviço, por sua força, pelo pano que tira a poeira e abre espaços para instalação da esperança, um agradecimento especial, bem como ao Gerente e Agentes de Organização Escolar pela postura proativa adotada como modo de ressignificar práticas efetivas no cotidiano escolar. Às merendeiras, obrigado pelo tempero que colocam naquilo que alimenta a nossa chama de ensinar!
O caminho a seguir já foi aberto. Não sabíamos a quanto chegaríamos. Sabíamos da chegada, isto sim nos movia. E, agora, sabedores de nosso 6,10 e da nova meta a ser alimentada, alicerçada, reiniciada ao longo de 2012, 6,15, caminhemos juntos outra vez, com a força dos versos do poema Mãos dadas de Drummond, fortalecidos pelos companheiros, ainda que taciturnos, movidos, no entanto por grandes esperanças e reconsideremos a enorme realidade, certos de que o presente é tão grande, não nos afastemos, não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas, ao que resta de 2012.


Rio Preto, 30 de março de 2012.

2 comentários:

  1. Imensamente feliz, parabenizo os alunos e professores do Walfredo Fogaça pelos resultados alcançados em sala de aula. Os meus parabéns também à coordenadora que soube conduzir muito bem o trajeto rumo aos resultados. Ao senhor, Seu Elísio, os meus aplausos vêm acompanhados do desejo de que o senhor continue otimista, exigente ao mesmo tempo que justo e fazendo da realidade literatura, como sempre.
    Aproveito a oportunidade para dizer que adorei o trecho desse artigo sobre o primeiro ano e que fiquei me lembrando como aprendi com a entrada deles! Como foi perturbador e ao mesmo tempo prazeroso ter que “garimpar” tudo o que havia de escritos ao nosso alcance procurando nortes para um trabalho adequado com os pequenos. E como foi satisfatório contar com o senhor e a Ana que não mediram esforços para concretizar as nossas iniciativas em atender a legislação e adaptar a escola e nós mesmos, professores, para o atendimento das especificidades dessa clientela.
    Abraços a todos os colegas e alunos.

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    1. Olá. Marcela,
      Como é bom dar asas às palavras. Assim deve ser feito com as crianças também e, recorto de sua postagem, a fala sobre a chegada de meninos e meninas de seis anos na Escola Walfredo e, com eles, toda a rearquitetura da escola para que nossa oferta de ensino na modalidade se completasse.
      A luta foi grande, o trabalho árduo, porém frutificou e vemos atualmente, três segundos anos bastantes ligados à leitura, à escrita e ao cálculo, dentre outros, vicejando aquilo que possibilitamos em nossas discussões e, mais do que isso, aplicabilidade.
      Parabéns por sua postagem: as palavras só têm sentido se ampliadas, discursadas, negociadas, propostas, publicadas e, desta forma, se faz arte literária, por que não?
      Há no espaço escolar um canto de saudade por sua passagem efetiva em três anos de trabalho promissor.
      Sorte grande em sua empreitada nova. Assim como as palavras, às vezes adormecidas nos dicionários, são os ambientes por onde passamos. Devemos sacudir geral para que o voo, ainda que iniciante comece por movimentar a vida e fazê-la pulsar.
      Abraço!
      Elísio

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