Minha filha
nasceu em agosto de 1976 à época das Olimpíadas de Montreal. O sucesso de então
na Ginástica Artística era a romena Nádia Comaneci, vitoriosa em suas
acrobacias, responsável pela alegria de muitos apreciadores do esporte. A
ginasta tinha um hábito que particularmente me chamou a atenção: colecionava
bonecas. Eram mais de duzentas, àquela época.
Engraçado como
os pais, em seus devaneios, sonham no lugar de seus filhos. Talvez devesse
perguntar-lhes se é possível fazer isso. Não sei, mas nem sempre eles podem
responder por isso, especialmente quando são bebês. Por uma época, imaginei que
minha filha, a exemplo de Comaneci, fosse desenvolver o mesmo hábito a
colecionar, conservando suas muitas bonecas ganhadas.
Não o fez:
brincou muito com elas, pintou-as, maquiou-as, destruiu – pela liberdade e
direito de brincar, quase todas suas bonecas. Conservou, a seu modo, uma da
qual gostava muito: Amelinha (hoje seria a boneca empreguete e, talvez,
voltaria com sucesso total; nem sei porque a Estrela não pensou nisso ainda, pode
ser o anúncio de uma venda como água).
Mas, falando em
sonho, gosto das frases de minha mulher, apreciadora dos sonhos e do direito
que se tem em fazê-los, construí-los, projetá-los em devaneios da vida em suas
múltiplas possibilidades. Como ela sonha, projeta, arquiteta suas cosas tão
pessoais e especiais. Até admito que ela esteja certa. Sonhos.
Hoje, seis de
agosto de 2012, em épocas iguais de Olimpíadas, Arthur Zanetti,
coincidentemente, fez a alegria do Brasil com a segunda medalha de ouro do
país, na ginástica artística e é o dia em que se celebra o aniversário de Liza
Mirella, minha filha. O sonho de Zanetti se concretizou: é possível afirmar que
ele tivera sonhado muito por tal conquista.
No dia em que
comemoravam os meus sessenta anos, em 2012, recebi um grande presente de minha
filha e de meu genro: a anunciação de que um bebê estava vindo ao mundo e o
tomei como presente de aniversário – presente único, especial, o melhor deles
já recebido, ora embalado e a ser embalado pela vida que se transcorre quando o
nenê se apresentar entre nós, neste mundão de meu Deus. Ainda não havia conseguido juntar as palavras
para brindar meu presente (todos os outros perderam a graça após a anunciação,
ainda que queridos e bem recebidos). Ensaiei escrever uma crônica, um artigo,
uma reflexão: nada me brotava; fiquei a imaginar as benesses da vida.
O dia de hoje
quase está por acabar. È o aniversário da mãe de meu futuro neto ou neta.
Ansiei escrever algo. E está sendo construído reflexivamente, em forma de
prosa, a homenagem ora expressa, como carinho, como texto-presente que se
publica, posto que não foi escrito em vão.

Mexendo em meus
guardados eletrônicos, encontrei uma charge recebida por Liza Mirella por seu
amigo Pelicano, num de seus aniversários, quando ambos militavam juntos para
distribuir as boas e as novas pelas linhas do Bom Dia Rio Preto. Linda
homenagem, da qual me sirvo para ilustrar este registro.
O dia dos pais
se aproxima novamente. É bom o exercício, apesar de nossas falhas, nossos equívocos,
nossas ansiedades. Como tudo na vida é exercício que se aprende e que se pode
ensinar.
Encontrei uma
oração pelos filhos em uma das redes sociais. Uma bela súplica. Deixo aqui dois
versos que me fizeram pensar mais profundamente sobre o valor dos filhos,
quando se é pai e se treina (se é que é preciso), ser avô. Meu Senhor, quero te
louvar e agradecer pela vida dos meus filhos. (...) Que eu possa ser para eles,
o pai/mãe amoroso (a), sincero(a) e amigo(a) que precisarem em qualquer fase de
suas vidas.
Com um pouco de Saramago
fecho esta homenagem: filho é um ser que nos emprestaram para um curso
intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores
defeitos para darmos os melhores exemplos de aprendermos a ter coragem.
Que a nova
geração de minha família cresça neste ato: coragem.
Rio Preto, 06 de
agosto de 2012.