quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Abajur sem luz


As luzes da ribalta se apagaram com a última apresentação da peça O Abajur Lilás, em meados de março de 2008, num canto da Rua Frederico Abranches, Bairro de Santa Cecília, em São Paulo.
A peça, ambientada num mocó, focaliza o drama de personagens socialmente marginalizadas: Dilma, Célia e Leninha, profissionais do sexo, e evidencia no tempero o entojo à existência humana.
As prostitutas, para fazer cumprir suas tarefas, exibem cicatrizes cortadas pela vida em navalhas cegas, são exploradas por Jiro, o cafetão-chefe, no melhor estilo de motivação à competitividade, à produtividade e à qualidade total, voltados ao lucro dos homens de negócios.
O ar, no “inferninho”, cheirava a cachaça, a perfume ordinário emanados dos corpos cansados de guerra, pulverizado com o odorizador-metáfora do medo, do autoritarismo, do terror, das doenças, do vazio de viver, das angustias humanas, como se todo aquele aroma pudesse apagá-los.
O samba – esse estilo musical afro-brasileiro, ritmo que nos faz vibrar entre as lambadas e o  que se samba na lida – trouxe como trilha sonora a vida que se enreda: “Do jeito que a vida quer”, valsando com “As mariposas” para, no final, postar-se “De frente pro crime” e assistir quase que extasiado: “tá lá o corpo estendido no chão...”.
Célia rebelou-se contra a tirania do sistema: virou a mesa e o abajur. A opressão, o mando, a “cala-boca”, no entanto, silenciou vozes, afogou cabeças, torturou o corpo, afastou o perigo.
A personagem Célia desvela a força movedora do ser humano ao resgatar sua dignidade, mesmo quando impera a força bruta! Quedou-se o abajur lilás, vivem, no entanto, as idéias de Plínio Marcos.

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