As luzes da ribalta se apagaram
com a última apresentação da peça O Abajur Lilás, em meados de março de 2008,
num canto da Rua Frederico Abranches, Bairro de Santa Cecília, em São Paulo.
A peça, ambientada num mocó,
focaliza o drama de personagens socialmente marginalizadas: Dilma, Célia e
Leninha, profissionais do sexo, e evidencia no tempero o entojo à existência
humana.
As prostitutas, para fazer
cumprir suas tarefas, exibem cicatrizes cortadas pela vida em navalhas cegas,
são exploradas por Jiro, o cafetão-chefe, no melhor estilo de motivação à competitividade,
à produtividade e à qualidade total, voltados ao lucro dos homens de negócios.
O ar, no “inferninho”, cheirava a
cachaça, a perfume ordinário emanados dos corpos cansados de guerra, pulverizado
com o odorizador-metáfora do medo, do autoritarismo, do terror, das doenças, do
vazio de viver, das angustias humanas, como se todo aquele aroma pudesse
apagá-los.
O samba – esse estilo musical
afro-brasileiro, ritmo que nos faz vibrar entre as lambadas e o que se samba na lida – trouxe como trilha
sonora a vida que se enreda: “Do jeito que a vida quer”, valsando com “As
mariposas” para, no final, postar-se “De frente pro crime” e assistir quase que
extasiado: “tá lá o corpo estendido no chão...”.
Célia rebelou-se contra a tirania
do sistema: virou a mesa e o abajur. A opressão, o mando, a “cala-boca”, no
entanto, silenciou vozes, afogou cabeças, torturou o corpo, afastou o perigo.
A personagem Célia desvela a
força movedora do ser humano ao resgatar sua dignidade, mesmo quando impera a
força bruta! Quedou-se o abajur lilás, vivem, no entanto, as idéias de Plínio
Marcos.
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