terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Balada à beira do berço

Sintomas de avô e de avô, certamente, são o da alegria, do contentamento, da emoção e da felicidade. Que confirmem meus colegas avós seus mais profundos sentimentos por esta passagem da vida. Ela não tem data, nem um tempo definido. Às vezes acontece precocemente, doutras, num dado tempo ao qual nos caiba escolher. Somos coadjuvantes do fato.
Uma professora que passou pela escola em que trabalhava até recentemente, um dia, ao saber de minha condição de futuro avô, me disse: - que alegria, diretor, você poder escrever um livro de histórias para o seu neto Theo, que terá o privilégio de ter um livro produzido pelo avô e, com ele, aprender muito das coisas do mundo, de sua história, de suas coisas.
Recebi o conselho apenas. Não me vi escritor de meu neto, no livro especial para o menino.  Venho assistindo, devagar, aos acontecimentos da vida dele, curtindo a meu modo a arte de ser avô. Venho guardando comigo as delícias e os sentimentos da mais nova trajetória de minha vida, e, também, venho criando brincadeiras para gastá-las com o menino – e olhem que ele curte muito – ainda que pareçam desprovidas de graça, ridículas, irritantes e fora de contexto. Cá entre nós: acho que o menino não pensa nada a respeito disto, a olhar a cara de alegria e o riso irrestrito a que ele se entrega. É uma arte e tanto, confesso.
Hoje, após o primeiro texto escrito – Carta ao menino –  quando ele nasceu, em fevereiro de 2013, volto a escrever sobre o nosso querido Theo, em peripécias que envolvem seus pais. Como é bom ver os pais aprendizes a lidar com a questão do afeto, do cuidar, do educar no sentido mais profundo do tema. É de orgulho minha prosa. É de alegria o correr da pena a falar de uma cena a que assisti recentemente, na casa de meu neto, à beira do berço.
O pai do menino, meu genro, é tão tímido quanto é o seu imenso caráter e o coração. Ele é quieto, observador contumaz, cauteloso. É também amoroso até onde o amor possa levar. E assim, em companhia de Liza Mirella, sua mulher, minha filha, a mãe do menino, vão educando o pequeno encantador de gente grande, a sua maneira.
Pois bem: incentivado pela mulher, lá foi o pai pegar um de seus diversos violões para demonstrar aos avós do guri, o quanto o menino curte música. E, timidamente dedilhou e, de repente, de compasso em compasso, o som invadiu o quarto, tomou conta do berço, já todo agitado com a alegria demonstrada pelo pequeno baladeiro de berço, a dançar voluptuosamente em seu território de dormir. Um frenesi tomou conta da criança, e os pais, ali, em seu modo de ser, curtiam o que os avós, em segundo estágio, deixavam-se embalar pelo ritmo e melodia que emanava do lugar.
A mãe, também tímida, mas de leveza de corpo e de movimento para a dança – algo de que sempre gostou -  não perdeu seu lugar de produtora de som e mandou um ritmo em inglês, para o delírio do filho – e alegria dos pais. Por que não?
Aparentemente, algo simples. Coisas que acontecem no interior das casas, quando os pais, a sua maneira, gerenciam o amor por seus pupilos. Às vezes, longe do convívio dos parentes. A cena a que assistimos, além de emocionar os avós todo o encantamento produzido pelos netos é bem vinda, é linda, é permissível – faz com que se note que o afeto, o carinho, o tratamento de filho é algo construído no cotidiano, entre seus pais que, assim, passam valores, gostos, incentivos, estímulos e influências a suas crias.
Acredito que, agora, na melhor idade, como cidadão sexagenário, os pais mais jovens, com seus talentos, podem ensinar a gente – que teve um tempo limitado para embalar os filhotes – como é boa e desejada a felicidade que se constroi, seja num canto da casa, seja no canto à beira do berço: o que importa é a alegria de viver que o fato gera ao menino.

Notas musicais afinadas e uma honraria em mil compassos a vocês Liza Mirella e Paulinho pela felicidade em serem pais com amor embalado, de ritmo alegre e colcheias, fusas andantes de alegria. 

9 comentários:

  1. Nossa Elísio, não pude segurar as lágrimas de emoção. Lindo texto!
    Obrigado pelas lindas palavras direcionadas, nunca sairão de meu coração!

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  2. Caro Paulinho, é de emoção que se faz a vida: melhor, mais viva, mais confiante. Privilégio tenho eu em poder cantar as alegrias de ver o que posso ver. Um abraço ao trio querido.

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  3. Director... Que delícia de texto! Qto amor pelo "trio"... E q cena maravilhosa! Impossível não imaginá-la e terminar (claro!! kkk) com os olhos cheios de lágrimas.
    Esses pequenos são assim. Rimos por tudo e choramos por nada, kkk. São pequenos sedutores, que nos conquistam com seus risinhos, gracinhas, beicinhos, dancinhas...
    Cada dia nos trazem a surpresa de mais um aprendizado, uma conquista, uma novidade. E nós vamos "crescendo" junto, reaprendendo a viver a vida, com a leveza de nossos meninos...
    Parabéns pelo trio, pela música, pela dança, pela família, pela emoção...
    Obrigada por partilhar conosco momentos tão especiais...

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  4. Parabéns, amigo Elísio.
    Só sendo avô para descrever, com detalhes, essas passagens e essas criaturinhas que chegam de Deus para alegrar ainda mais as nossas vidas.
    Abração!
    Vovô Canário.

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    1. Obrigado, amigo Lissinho (vovô Canário) por partilhar desta alegria. Acredito que as coisas boas da vida reservam para a melhor idade, momentos de efetiva alegria, produzida por nossos novos membros da família. Tenho acompanhado pelas fotos e posts a alegria de vocês também com o neto. Um abraço. Vovolisio

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  5. Lindo texto, de uma pureza d'alma que encanta quem do lado de cá, se põe a vislumbrar por um canto da fresta; que se abre com este relato, para também apreciar e quase vivenciar a cena. Delícia poder contar com pais tão especiais, não só o Theo mas também a Liza (e Paulinho, por consideração, é claro). Que Deus os abençoe e lhes permita muitas e muitas outras cenas como esta, a embalar o crescimento deste bebê maravilhoso, cercado de amor. E que ora está a encantar a todos com o seu aprendizado. Feliz demais por acompanhar daqui!

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    1. Que alegria receber este precioso comentário. A felicidade toma conta de mim.
      Um grande abraço!
      VovôLisio, apaixonado.

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  6. Belissimo texto. Amar e escrever, para você, são inseparáveis. Você ama e logo escreve. E se escreve é porque ama. Que você escreva sim , um livro de historias para seu neto.Será um livro de amor.

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    1. Obrigado, Silvia!
      Uma cronica de amor certamente ao pequeno que vem mudando minha vida. Quem sabe as alterações façam vislumbrar um livro ao pequeno encantador de gente grande. Hoje, por exemplo, foi um domingo que antecede o Natal de muita alegria, com ele. Usou sua primeira sunga para entrar na piscina da chácara. Só curtição.
      Outro dia, a mãe e a avó foram às compras no Shopping. Eu fui convidado a ir para ajudar a cuidar dele. Preferi curtir a companhia dele em casa, só nos dois, e foi uma noite;experiência memorável. São historias que se vão tecendo. Abraços.

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