A data, já gravada na memória, remete a um
tempo de início de namoro: a primeira de tantas flores: uma orquídea, cujas
pétalas acabaram indo se secar e ficar no meio de um livro. Uma semente que um
dia germinaria.
Sempre tivemos plantas em casa: samambaias de
metro, antúrios, lírios ou mesmo as nossas “suculentas” cultivadas com carinho.
As orquídeas, enfim, tiveram o seu tempo de
colheita, após a longa semeadura, aquela flor que o livro guardou e que o tempo
cuidou de ruir, fruto de um desejo, germinaria aqui em Rio Preto, por volta dos
últimos cinco anos, definitivamente.
A chácara que temos foi o lugar ideal para o
cultivo. Comprando ou ganhando vasos com orquídeas, após a florada, o destino
era plantá-las nas árvores do lugar.
Mas, a questão de paixão, é alimentada com o
olhar, com o namorar as espécies e não dava para vê-las, diariamente, na
chácara. A ideia foi trazê-las para a “casa grande”.
A flor que entrou em nossas vidas há anos,
fez colorir e mudar nosso olhar para elas: era preciso estudá-la para o cultivo
adequado. Sueli então começou a aventura pelo conhecimento: se há um site sobre
orquídeas, eis ali o mouse, o olhar, o encantamento dela frente às espécies. Depois
de muita pesquisa ( e perda de espécies por excesso de terra e água,conseguiu
convencer a si e ao marido, de que orquídeas necessitam de pouco para o seu
desenvolvimento e, assim praticando o uso adequado de substratos por espécies,
aprenderam a lidar com mais propriedade com Wandas, arundinas, phalenopsis,
dendrobiuns, denfales, cinbidiuns, oncidiuns,catleyas e tantas outras.
As revistas, novas ou velhas, são espiadas,
lidas, pesquisadas, compradas por Sueli, que também coleciona para a prática,
os equipamentos necessários ao ofício.
Sabe de adubos, de pesticidas, de prevenção e
das ideias mais fantásticas para o cultivo, poda, rega, enfim, a arte de
cultivar suas flores prediletas. Não que um bom capitão (espécie de planta
comum) ou uma florinha silvestre, escape de seus olhos, canteiros floridos.
Cabe ao marido a parte acadêmica para,
posteriormente praticar as teorias: ele frequenta os cursos específicos, como
cultivo de orquídea, jardim vertical, mini jardim etc, sob a orientação de
Sueli, a incentivadora.
Difícil perder uma quarta-feira no CEASA, ou
uma feira (às terças), e voltar para casa sem flores. Visitar uma feira ou
exposição de orquídeas é deixar-se perder entre as belezas das espécies.
Sueli é também fotógrafa de flores: haja
arquivo no computador para tanto registro de catléias em flor, de mini dendro,
e toda e qualquer espécie que lhe encha a câmera e as lentes de tanta beleza.
Vindas para casa, e com a compra ou os
presentes recebidos, o difícil foi arranjar tanto lugar para conviver com as
plantas. Não houve saída: era preciso construir um orquidário (ainda que
singelo e com olhares amadores), sem, contudo, perder de vista os conceitos
básicos: umidade, ventilação e luminosidade.
Pois bem: o difícil agora é sair e deixar as
filhas sozinhas. É preciso o olho vivo com elas, a conversa diária, a rega
cuidadosa do final de semana, em que se vive mais intensamente com a companhia
delas.
Recentemente o casal teve de viajar num final
de semana destes quentes da cidade. Um vento veemente de inverno quente acidentou
um painel de orquídeas da varanda: como a dor de um filho, foi duro ver algumas
espécies deixadas ao solo, sozinhas, quase que secas, sem carinho.
São mais de duzentos vasos. Cada planta, uma
história, um desejo, um prazer e uma (ou muito mais) foto espalhadas por diversos
arquivos digitais.
As plantas mudaram a vida do casal. É
prazeroso cuidar delas, pensar nelas, buscar estudar sua natureza, seu cultivo.
É terapêutico, é saudável, é sentir-se generoso com a natureza e espalhar
possibilidades de ampliar a floração, ou, simplesmente, observá-las, apenas,
espiando aqui e acolá um brotinho novo a despontar ou um ácaro insistente a
combater.
Difícil, agora, ausentar-se delas.
Suas orquídeas não são apenas orquídeas. São pedaços de vida que encontraram outros pedaços de vida e tornaram-se apenas um. O casal é Um, por isso esse encantamento compartilhado. Por isso esse envolvimento. Lindo texto. Linda experiência.
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