Todo dia é dia: de índio, de
trabalho, de jogo, de levantar, de dormir, de passear. Todo dia, também é dia
de avô.
Um desses dias dos dias, eis
que saí para acompanhar a vovó Su a um exame. Final de tarde. O exame seria
demorado – o médico ainda nem havia chegado e já era a hora de o exame
acontecer – “todo dia é dia de aguardar, também”. Vovó Su sugeriu que eu
pudesse esperar ou ir a algum lugar e retornar.
Entre a ida e a vinda, fui
parar num dos Sebos da cidade à procura de livros. Entretive-me com as obras da
livraria, escolhi algumas delas e retornei para a clínica onde vovó Su ainda
esperava pelo médico e pelo exame.
Antes disso, porém, girando
pela região onde o Sebo foi parar após a mudança de seu endereço, uma placa de
escola infantil chamou-me a atenção. Descendo, devagar a rua, dado o trânsito
que marca a saída das escolas em seus turnos, pelo retrovisor vi um carro
preto, conhecido, estacionado, com o seu dono parado ao lado.
Adiante, parei o meu carro, e
dirigi-me ao lugar onde estavam o carro e o seu condutor, meu genro Paulinho,
que fora buscar o filho no final da jornada escolar do dia. E a criatura feliz
estava dentro do carro em seu banco.
Que encontro! Que dia de avô
tive naquela tarde fria de junho. Meu neto Theo deu-me um desses presentes que
criança costuma dar e, de repente, quebrar as certezas, as rudezas, as
idiossincrasias de gente grande: o afeto de neto, sem preço, sem custo, sem
limites.
Tirei o menino de seu banco,
que, a meu colo, olhava-me com um amor tão profundo e conversava muito tentando
– a seu modo expressar a sua felicidade, ou seria a minha felicidade – agora não
sei mais dizer: era tanta a felicidade ali, em frente à escola do garoto.
A primeira pergunta que ele me
fez: - vovô, por que você não está em sua casa?
Fiquei pensando em como
responder à lógica do questionamento do menino, que me permitiu uma leitura
breve (o que meu avô está fazendo em frente da minha escola, se aqui não é o
lugar dele?). Pois bem, disse que estava de passagem e que iria ... - (sem que
ele me desse tempo e emendou com a pergunta: – onde está a vovó Su?
Após as perguntas iniciais, começara
o festival da mais profunda alegria. O menino, em êxtase pelo fato inusitado de
o avô estar em sua escola, chamou-me para ver a placa com o nome da escola,
aliás as duas placas de identificação do lugar. E, aos poucos os pais dos seus
colegas de turma iam chegando para apanhar os pequenos e ele, deslumbrado me
apresentava aos amigos: é meu vô, seu nome é Elísio, ele está aqui, olha, olha!
Entre abraços, apertos, risos
de contentamento daquela tarde festiva para nós dois, vi passar o Felipe, o Augusto, a quem tive de
segurar num braço (o outro era do Theo) para dividir o amor de avô por
instantes. E vi a Luísa e vi outras crianças e vi também os pais deles.
Discreto, silencioso,
emocionado, o pai do menino, Paulinho, meu genro, tenho certeza, registrou
aquilo tudo em seu coração emotivo. Vibramos, sem trocar uma palavra sequer
naquela cena.
A palavra àquela hora não era
de gente grande. Era o momento neto. Era a hora do menino. Era a hora do
presente. Era o dia de avô, destes que acontecem. Naturalmente, cotidianamente,
ou por um traçado da coincidência que, de repente, faz da rua da escola a passarela
para a expressão amorosa de viver.
Obrigado, meu querido neto Theo
por fazer, também, de um final de dia frio de junho, em 2016, um dia de avô.
Com amor imenso, vovoLísio. Rio Preto, 26 de julho de 2016.
Lindo texto! Passou como um filme diante de meus olhos enquanto o lia! Abraços deste também avô e amigo-irmão!
ResponderExcluirCaro amigo, avô, escritor, leitor! Que prazer para quem escreve ter a recompensa de linhas assim como as que desliza sobre o papel virtual. É bom demais. Pena que as mídias sociais têm deixado as leituras dos blogs meio que escanteadas, em detrimento das imagens. Pena. Um abraço.
ExcluirParabéns pelo seu artigo,Dia de avô!
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